Skip to main content

Roda de conversa sobre violência de gênero online [atividade de aprofundamento]

Esta atividade permite que participantes compartilhem e reflitam sobre experiências de violência de gênero online.

Sobre esta atividade de aprendizagem


deepening_activ_circular_200px.png

Esta atividade permite que participantes compartilhem e reflitam sobre experiências de violência de gênero online.

Um espaço seguro é o principal pré-requisito para esta atividade, e algum tempo de silêncio para as participantes refletirem.

Essa atividade acontece em duas etapas:

  • Momento de reflexão, quando cada participante tem tempo para articular e escrever sua história, respondendo a uma série de perguntas-guia.
  • Roda de conversa, onde todas as participantes compartilham suas histórias umas com as outras.

É importante notar que a atividade não é para os propósitos de terapia. Ser capaz de contar sua história, mesmo anonimizada, tem alguns efeitos terapêuticos, mas deve ficar claro que esse não é o objetivo aqui. Se você estiver lidando com um grupo que teve experiências de violência de gênero online, especialmente se houver pessoas no grupo com experiências muito recentes, você pode ou incluir na equipe de facilitação alguém que possa fornecer apoio terapêutico, ou pular esta atividade se acha que não pode lidar com as participantes revendo seus traumas ou com a retraumatização.

Objetivos de aprendizagem

  • Compreensão das formas de violência de gênero online e seus impactos sobre as pessoas sobreviventes e suas comunidades.
  • Compreensão do continuum da violência entre as esferas offline e online e as estruturas de poder que a permitem.

Para quem é esta atividade?

Esta atividade pode ser realizada com participantes com diferentes níveis de entendimento e experiência com a violência de gênero online.

Antes de realizar a atividade, é importante saber se há participantes que estejam vivenciando um caso de violência de gênero online ou se há alguém que passou por algum caso recentemente, já que a atividade pode ser uma fonte de estresse para elas. Saber quem são as participantes e com o que você está disposta a lidar como treinadora / facilitadora também é importante antes de considerar realizar esta atividade.

É igualmente importante para você, como treinadora / facilitadora, ser honesta sobre o que você pode ou não dar conta. Esta atividade NÃO é recomendada para situações em que:

  • você não estabeleceu confiança com e entre as participantes
  • você não teve tempo para conhecer as participantes antes da oficina
  • você não tem nenhuma experiência em lidar com conversas difíceis

Com base na experiência de outras facilitadoras, é ideal ter duas facilitadores para esta atividade.

Tempo necessário

Considerando uma oficina padrão com 12 participantes, em que cada participante precise de cerca de cinco minutos para contar suas histórias, e que serão necessários mais 30 minutos de reflexão coletiva, além de algum tempo para dar instruções, você precisará, no mínimo, de 100 minutos para esta atividade.

Isso sem incluir intervalos ou atividades de bem-estar que podem ser necessárias para lidar com a retraumatização. Com um grupo padrão de 12 pessoas, o ideal seria realizar a atividade em meio período (4 horas), o que seria suficiente para incluir intervalos e atividades de bem-estar.

Recursos necessários

  • Guia de perguntas por escrito
  • Espaço para as pessoas refletirem
  • Um grande círculo no meio da sala para que as participantes compartilhem suas histórias.

wiggy-cactus-blue-several.png

Dinâmica

Esta atividade tem duas etapas:

  • Momento de reflexão, quando cada participante tem tempo para articular e escrever sua história respondendo a uma série de perguntas-guia.
  • Roda de conversa, onde todas as participantes compartilham suas histórias umas com as outras.

Durante a fase de reflexão, as participantes têm 30 minutos para refletir sobre um exemplo real de violência de gênero online. Eles podem escolher contar sua própria experiência ou a de outra pessoa. Mesmo que estejam contando suas próprias histórias, todas são incentivadas a anonimizá-las. Elas devem contar uma história cada.

Para facilitar a reflexão, as participantes podem usar as seguintes perguntas-guia para escrever a sua história:

  • Quem é a sobrevivente? Quem foi / foram o(s) agressor(es)? Quem mais está envolvido na história?
  • O que aconteceu? Onde a história aconteceu? Que tipo de violência foi cometida?
  • Qual foi o impacto da violência? Como a sobrevivente reagiu? O que ela mais temia? A situação aumentou ou piorou? Como?
  • Que tipo de apoio a sobrevivente recebeu? Quem pode dar apoio a sobrevivente?
  • Quais ações a sobrevivente e pessoas apoiadoras tomaram? Como o caso foi resolvido?
  • Como está a sobrevivente agora? Como ela se sente sobre o que aconteceu? Que lições ela aprendeu com isso?
  • Que papel a tecnologia desempenhou nesta história? Como isso afetou o impacto da violência? Como isso ajudou a lidar com a violência?

Nota de Facilitação: Estas são perguntas de orientação e as participantes não precisam responder a todas elas. Elas existem apenas para ajudá-las a articular suas histórias.

Anonimizando as histórias

As participantes são incentivadas a tornar suas histórias anônimas, mesmo que a história seja delas:

  • Crie um pseudônimo que não seja próximo ao seu nome.
  • Localize o caso de forma mais ampla e menos específica. Se houver questões contextuais que possam identificar a pessoa com base em sua origem, dê ao local um alcance maior. Uma coisa é dizer que a sobrevivente é de Petaling Jaya, na Malásia, e outra é dizer que ela está em Kuala Lumpur ou mesmo na Malásia.
  • Dê detalhes vagos sobre a sobrevivente (siga os marcadores gerais: gênero, sexualidade, país, religião, raça, classe social), mas não dê detalhes sobre sua experiência de violência de gênero online (as plataformas e espaços onde a violência aconteceu, o que ela experimentou, como o caso evoluiu, o impacto sobre a vida da pessoa).

Depois que todas as pessoas tiverem escrito suas histórias, reúna as participantes em um círculo.

Estabeleça as regras da roda de conversa. Seria bom também ter as regras por escrito, onde todas possam vê-las e reiterá-las.

  • O que é dito na roda de conversa não sai da roda de conversa sem a permissão expressa de todas as participantes.
  • Ninguém tem permissão para invalidar as experiências que estão sendo compartilhadas. A gravidade da violência vivida não é uma competição. Não peça detalhes explícitos ou sensíveis da história.
  • As ouvintes podem fazer perguntas de esclarecimento, mas não perguntas invasivas. Não pergunte “por que”, ao invés disso pergunte “como” ou “o que”.
  • Não haverá interrupções quando uma história for contada. Ouça atentamente.

O objetivo aqui é criar um espaço seguro para as pessoas compartilharem suas histórias.

Certifique-se de que todas saibam que ninguém está sendo obrigado a compartilhar suas histórias.

Comece a roda de conversa.

Nota sobre cuidados: Pense em maneiras de abrir e fechar a roda honrando as histórias compartilhadas. Algumas sugestões:
Abra e feche com um exercício de respiração
Tenha um pote com pedras ou conchas que as pessoas possam escolher e segurar durante a roda. Para fechar, peça para as pessoas colocarem as pedras de volta no pote

Feche a roda quando as histórias forem contadas. Ao fechar, faça algo para reconhecer as histórias compartilhadas e a força das narradoras.

Dependendo do tipo de participante e com o que você se sente confortável, você pode:

  • Fazer alguns exercícios de respiração profunda em grupo
  • Fazer com que as pessoas circulem e agradeçam umas às outras pelo compartilhamento
  • Acender um incenso e passá-lo na sala para limpar a energia
  • Colocar uma música e dançar
  • Ler um poema que preste homenagem às nossas histórias. Usamos uma citação de Alice Walker para fechar nossas rodas. Cada pessoa tem uma vela e, no fim, elas se revezam para acender suas velas em uma vela principal.

Nota: É essencial fazer uma pausa para que as participantes possam relaxar por conta própria antes de finalizar a atividade.

Para finalizar a atividade, a treinadora/facilitadora resume as histórias com base nas seguintes questões:

  • Quais formas de violência de gênero online foram compartilhadas?
  • Onde ocorreram as violências? Estabeleça as ligações entre os espaços online e offline - como um afetou o outro?
  • Quem foi / foram os agressores habituais?
  • Qual foi o impacto da violência de gênero online, especialmente na esfera offline?
  • Quais foram os problemas que as sobreviventes enfrentaram para resolver seus casos?
  • Como as questões interseccionais afetaram a experiência da violência? Por exemplo, tipos específicos de agressão, o papel da cultura / religião e normas, invisibilidade, desafios para obter apoio / acesso à justiça.

Notas de preparação da facilitadora

Esta não é uma atividade para toda treinadora / facilitadora. Ou para todo tipo de participante.

Se você acha que não pode lidar com as questões postas aqui, escolha outra atividade de aprendizagem. Ser capaz de admitir o que você pode e não pode lidar só tornará você uma melhor treinadora / facilitadora, capaz de criar espaços seguros para treinamento.

Esta atividade também requer muita confiança entre a facilitadora e as pessoas participantes. Requer também uma preparação mental e emocional das participantes. Ela não é recomendada como uma atividade introdutória, especialmente se as participantes não estiverem preparadas para isso.

Algumas diretrizes a serem seguidas, se você decidir usar esta atividade:

  • Durante a roda de conversa, apenas permita que cada participante conte sua história à sua maneira. Não as apresse. Não corrija suas falas. Não as interrompa.
  • Não force todas a contarem uma história. Para algumas pessoas, conseguir escrever suas histórias já é bom o suficiente.  Ou seja, nem todo mundo precisa contar uma história, mas incentive todas a fazê-lo.
  • Se houver alguma situação-gatilho, faça uma pausa. Não force a participante a continuar sua história.
  • Lembre a si mesma e as participantes que a cura é um processo, e contar histórias e ser ouvida é um passo para encerrar o ciclo de violência.
  • Fazer esta atividade com uma co-facilitadora é o ideal, assim vocês podem sustentar o espaço juntas.

Leia a seção sobre como lidar com situações emocionais no guia Segurança Holística 

Nota de Facilitação: Como controlar o tempo respeitando a pessoa que conta a história? 
Lembre-se de que esta atividade é para abrir um espaço para as participantes compartilharem e refletirem sobre as experiências de violência de gênero online, no sentido de compreender um pouco mais a questão. Então, embora você possa querer dar mais do que 5 minutos para as pessoas compartilharem suas histórias, você também terá que determinar um limite de tempo para que todas possam ter a chance de compartilhar (se assim escolherem) e, também, para que o grupo tenha tempo para refletir sobre as histórias. Controlar o tempo é essencial para isso. É importante que você deixe claro para as participantes o porquê de você estar controlando o tempo.

Existem várias táticas para lembrar gentilmente as pessoas disso. Aqui estão alguns:

  • Prepare cartões ou quadros que você possa usar para sinalizar quanto tempo elas têm
  • Peça para que alguém do grupo cronometre o tempo para que esta seja uma tarefa compartilhada entre as participantes
  • Espere por pausas no momento da contação dos casos para lembrar a pessoa do tempo que resta

wiggy-cactus-yellow-several.png