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Analisando a violência de gênero online [atividade de aprofundamento]

Esta atividade conduz as participantes por um estudo de caso de um incidente de violência de gênero online, e as leva a discutir os diferentes aspectos do estudo de caso.

Sobre esta atividade de aprendizagem


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Esta atividade conduz as participantes por um estudo de caso de um incidente de violência de gênero online, e as leva a discutir os diferentes aspectos do estudo de caso.

Objetivos de aprendizagem 

  • Compreensão das formas de violência de gênero online e seus impactos sobre as pessoas sobreviventes e suas comunidades.
  • Compreensão do continuum da violência entre as esferas offline e online, e as estruturas de poder que o permitem.
  • Ideias, estratégias e ações sobre as formas como a violência de gênero online pode ser abordada, especialmente em contextos específicos.

Uma observação importante, embora esta sessão traga ideias para responder à violência, o principal objetivo da atividade será explorar e analisar um exemplo de violência de gênero online.

Nota sobre cuidados: A análise de um caso de violência de gênero online pode causar sofrimento e desconforto nas participantes.

Esta não é uma atividade para fazer quando você não conhece as participantes ou se você não conquistou a confiança do grupo anteriormente.

Para fazer a atividade de forma mais responsável, é importante que você esteja ciente das experiências de violência das participantes (veja mais aqui: Conheça es participantes), e esteja atenta à reação delas enquanto conduz a atividade.

Incentive participantes a levantarem a mão caso precisarem fazer uma pausa na atividade.

Seria útil conhecer e ter alguma experiência com exercícios de detalhamento de casos (para ajudar as pessoas a lidar com situações desafiadoras), como os encontrados no Capacitar Emergency Kit.

Para quem é esta atividade?

Esta atividade pode ser realizada com pessoas com diferentes níveis de experiência em direitos da mulher e tecnologia.

Dependendo do nível de experiência das participantes nos vários aspectos relacionados à violência de gênero online, a facilitadora terá de se preparar para intervir e explicar alguns conceitos sobre as redes sociais, a Internet e mesmo sobre leis nacionais.

Tempo necessário

Cerca de 2 horas por estudo de caso.

Recursos necessários 

  • Papel para flipchart / quadro branco
  • Marcadores/Canetões
  • Tarjetas (ou bloco de notas adesivas / post-its) para anotar diferentes aspectos do estudo de caso que precisam ser enfatizados.

Como alternativa, você pode preparar slides com os estudos de caso e as perguntas.

Dinâmica

Você pode começar descrevendo o incidente a ser analisado, anotando os pontos abaixo em cartões individuais e colando-as na parede (ou, se você preparou uma apresentação, os pontos abaixo podem aparecer em tópicos nos seus slides):

  • Nome da pessoa sobrevivente + gênero + classe social + raça + nível educacional + quaisquer outros marcadores de identidade
  • País de onde a pessoa sobrevivente é + leis que possam protegê-la (se houver)
  • Onde o incidente aconteceu, em qual plataforma ele começou
  • Se puder, nomeie o(s) agressor(es) inicial(is) + alguns detalhes que forem importantes no estudo de caso
  • Se o(s) agressor(es) não puderem ser nomeados, anote alguns detalhes sobre eles: os nomes que usam online (apelidos, perfis, @s) etc.
  • A relação entre a pessoa sobrevivente e o agressor, se houver

Em seguida, inicie a discussão com as seguintes perguntas:

  • Quem mais deve ser responsável aqui, além do perpetrador?
  • Quem é a comunidade em torno da pessoa sobrevivente? Como você acha que poderiam ter respondido?
  • Quais são as possíveis respostas da sobrevivente à situação?
  • Como você acha que este incidente a afetou? (impacto)

Escreva as respostas em cartões individuais e cole-os na parede.

Em seguida, compartilhe mais detalhes do estudo de caso, marcando os que as participantes já adivinharam, e anote-os em cartões individuais:

  • Como o caso evoluiu? Em quais espaços a violência foi replicada?
  • Como o caso se espalhou pela vida da pessoa sobrevivente fora dos espaços online?
  • Como a comunidade respondeu?
  • Que outros espaços reforçaram o incidente inicial de violência?
  • Quem mais se envolveu?

Em seguida, abra a discussão novamente fazendo as seguintes perguntas:

  • Que recurso a pessoa sobrevivente tem?
  • Que leis podem protegê-la em seu país?
  • Que outro impacto isso terá sobre a pessoa sobrevivente com base em sua origem, no que faz, a que classe social pertence, e em que país está?
  • O que deve acontecer com o(s) agressor(es) inicial(is)? Quem pode fazer isso acontecer?
  • O que deve acontecer com o(s) outro(s) agressor(es), incluindo aqueles que prolongaram e intensificaram o incidente?
  • Qual é a responsabilidade de quem possui e administra a plataforma onde ocorreu o incidente?
  • Quem mais é responsável nesse cenário? Qual é a responsabilidade deles?
  • Como os movimentos pelos direitos das mulheres poderiam responder a isso?

Escreva as respostas das participantes a cada pergunta em cartões individuais e cole-os na parede.

No final, haverá uma galeria na parede que mostra os diferentes aspectos do estudo de caso da violência de gênero online.

Para sintetizar, reforce o seguinte:

  • A conexão e o continuum entre a violência online e offline.
  • A complexidade da violência de gênero online: as várias partes interessadas, tanto negativas como positivas.
  • Os sistemas e estruturas que facilitam a violência de gênero online, bem como os que podem ser vias para reparação e mitigação.

Notas de preparação da facilitadora

A fim de criar um estudo de caso relevante, que incentive a discussão e a compreensão da complexidade da violência de gênero online, o caso precisa ressoar nas pessoas participantes, o que requer saber de onde elas vêm e quais são suas preocupações [Nota: Há uma seção sobre isso aqui: Conheça es participantes.]

Os exemplos de casos abaixo podem ser úteis para realização do estudo. Eles trazem uma “Apresentação inicial” do caso e a “Evolução do caso” a ser analisado.

Se você deseja criar seu próprio estudo de caso:

  • Dê detalhes sobre a pessoa sobrevivente, de onde ela vêm, seus contextos
  • Seja precisa sobre onde o incidente aconteceu primeiro e como ele evoluiu
  • Pense no impacto do incidente: offline / online; no indivíduo, sua comunidade / família / amigos; em seu bem-estar, segurança digital, segurança física
  • Tente descrever as ações do(s) perpetrador(es), mas não suas motivações

 

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Recursos adicionais

Exemplo de estudo de caso: O caso de Selena

Apresentação inicial

Selena está no último ano de faculdade. Ela frequenta a faculdade em Manila, Filipinas, mas volta para sua província em Angeles sempre que tem oportunidade, para visitar sua família. A fim de aumentar sua renda para os estudos, ela trabalha como barista em um café local.

Em uma viagem para casa, ela encontra sua mãe e seu pai muito chateados, e acusando ela de abusar de sua liberdade em Manila, e de usar sua aparência para conhecer homens estrangeiros. Eles a envergonham, chamam-na de vadia, e ameaçam cortar seu apoio, além de exigir que ela pare de namorar homens estrangeiros online e de causar problemas.

Selena não usa nenhum tipo de aplicativo de namoro - ela está muito ocupada com a faculdade e o trabalho. E ela já tem namorado.

Depois de horas com sua mãe e seu pai gritando com ela, ela finalmente consegue uma imagem do que aconteceu:

No dia anterior, Heinz, da Alemanha, havia ido na casa de sua família e exigido ver Selena. Ele trouxe consigo cópias de conversas que teve com Selena e as fotos que ela compartilhou com ele. Essas conversas aconteceram tanto no chat do app de namoro quanto no WhatsApp. Ele deu a entender que ele e Selena se envolveram e fizeram sexo virtual. Aparentemente, ele havia enviado dinheiro a Selena para que ela pudesse se candidatar a um visto alemão e visitá-lo. Quando ela não conseguiu o visto, ele mandou dinheiro para ela comprar uma passagem para que pudessem se encontrar em Bangcoc, onde poderiam ficar juntos longe dos olhos de sua família conservadora. Ela não apareceu. Heinz tentou entrar em contato com ela, mas ela não respondeu. Então ele sentiu que não tinha escolha a não ser fazer uma visita à família dela. Mas eles se recusaram a deixá-lo entrar e ameaçaram chamar as autoridades se ele insistisse em ver Selena.

Heinz foi embora, irritado.

Parece um golpe que deu errado.

Problema: Selena não estava ciente de nada disso. Ela nunca falou com nenhum Heinz. Ela não recebeu nenhum dinheiro dele. Ela não estava em um relacionamento a distância com ninguém.

Parece que as fotos e a identidade de Selena foram usadas para dar um golpe “catfish” em Heinz.

(Catfishing é quando alguém cria perfis falsos online se apropriando da identidade e de fotos de uma pessoa para enganar outras pessoas. Às vezes, os perfis são criados usando as fotos e o nome real da pessoa da foto, mas houve casos em que perfis foram criados com fotos de outras pessoas, mas sem utilizar também a identidade delas.)

Evolução do caso

Em resposta ao incidente, Selena removeu todas as fotos de todas as suas redes sociais e enviou uma mensagem para o aplicativo de namoro e para o WhatsApp informando que a conta com suas fotos era falsa, e que alguém tinha usado para enganar um usuário alemão.

Ela e sua família não tiveram mais notícias de Heinz. Ele parece ter deixado Angeles depois que a família de Selena não o recebeu. 

Um dia, na faculdade, alguns de seus colegas de classe começaram a importuná-la, chamando-a de vadia e vigarista, dizendo que era uma pena que uma garota bonita como ela usasse sua aparência assim. Um dos amigos de Selena mostrou a ela uma página do Facebook chamada "Selena é uma puta safada". Nessa página, Heinz relata o que "Selena" havia feito com ele - com capturas de tela de suas conversas, suas fotos e gravações de áudio do sexo virtual.

A página viralizou e recebeu muitos likes e seguidores e seguidoras.

O que Selena pode fazer?

Exemplo de estudo de caso: O caso de Dewi

Apresentação inicial

Dewi mora em Jacarta, Indonésia. Ela é uma mulher trans de 30 e poucos anos, que trabalha como agente de call center para uma grande empresa multinacional de varejo online. Com duas de suas amigas mais próximos, Citra e Indah, ela começou recentemente uma pequena organização para promover a igualdade SOGIE (Orientação sexual e identidade e expressão de gênero) na Indonésia.

Desde que começaram a organização, as três foram convidadas para eventos locais em torno dos direitos LGBTQI+ e participaram de manifestações em apoio à causa. Ela apareceu no noticiário local falando contra a masculinidade tóxica e o fundamentalismo religioso.

Um dia, quando Dewi se preparava para trabalhar, ela recebeu uma mensagem em seu Facebook Messenger. Era de uma conta chamada Mus, e dizia: ¨Você me fez muito feliz ontem à noite. Quer me fazer feliz de novo hoje à noite? ¨. Ela achou que era engano, e respondeu: ¨Acho que isso não é para mim. Você enviou errado”

Mas Mus respondeu: “É para você, Sra. Dewi. Eu vi suas fotos e quero ver você pessoalmente para que possa me fazer feliz de novo”.

Assustada por Mus saber seu nome, ela responde dizendo: ¨Eu não te conheço, por favor, pare¨. E então bloqueou Mus.

Ela casualmente compartilha o incidente com Citra e Indah, e elas chegam à conclusão que deve ser alguém que viu uma foto de Dewi em um dos eventos públicos, e desenvolveu um crush por ela. Na verdade, era até algo a se gabar.

No entanto, mais mensagens continuaram chegando em sua caixa de mensagens do Messenger, de diferentes usuários. As mensagens foram ficando cada vez mais grosseiras e explícitas. Ela também passou a receber mais pedidos de amizade no Facebook. Ela optou por bloquear esses usuários e tentar ignorá-los.

Ela manteve Citra e Indah atualizadas sobre o que estava acontecendo, e elas foram ficando preocupadas com Dewi.

Para tentar descobrir por que Dewi estava sendo assediada, Citra buscou seu nome no Google, e encontrou montagens do rosto de Dewi em corpos de mulheres trans nuas. As imagens estavam todas marcadas com o nome de Dewi e publicadas em sites caseiros de pornografia.

Imediatamente, as três escreveram para os sites onde as imagens foram postadas, e solicitaram a retirada das fotos e do nome de Dewi. Elas esperavam que aquilo desse um fim à história, e que o assédio parasse. 

Evolução do caso

Um dia, o supervisor de Dewi a chama para uma reunião, e mostra mensagens no Twitter da empresa com uma cópia das montagens e com a legenda: “É assim que seus funcionários são? Que tipo de moral sua empresa tem? Demita ELE.”

Segundo seu supervisor, a conta da empresa no Twitter havia sido bombardeada com a mesma mensagem vinda de diferentes contas.

O que Dewi pode fazer?


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