Princípios feministas da internet
Conduzir atividades introdutórias e de fortalecimento para os Princípios Feministas da Internet (PFI). Tais atividades foram desenvolvidas como exercícios de interação que abrem espaço para a conscientização de feministas para a internet como um espaço político, bem como conectar tais princípios às suas áreas de interesse específicas. É **altamente recomendado** que as participantes escolham um caminho de aprendizagem a percorrer, pois estes incluem actividades com diferentes níveis de profundidade que ajudam os participantes a obter mais conhecimentos sobre os temas abordados.
- Introdução, objetivos e atividades de aprendizagem
- Ressignificando a internet [atividade introdutória]
- Imaginar uma internet feminista (3 opções) [atividade introdutória]
- A corrida da internet [atividade introdutória]
- Linha do tempo da internet [atividade introdutória]
- Como funciona a internet? [atividade introdutória]
- O que significa uma ferramenta? O que significa um espaço? [atividade de aprofundamento]
Introdução, objetivos e atividades de aprendizagem
Esta página é essencial para o correcto uso e compreensão do Módulo. Seguir os Caminhos de Aprendizagem, com actividades de profundidade variável, permitirá ao participante obter uma melhor compreensão dos temas estudados.
Introdução
Este módulo de facilitação tem como objetivo conduzir atividades introdutórias e de fortalecimento para os Princípios feministas da internet (em português). Tais atividades foram desenvolvidas como exercícios de interação que abrem espaço para a conscientização de feministas para a internet como um espaço político, bem como conectar tais princípios às suas áreas de interesse específicas.
Qual o público-alvo deste módulo?
- Ativistas atuando com os feminismos nas linhas de frente, utilizando internet e celular no cotidiano
- Financiadoras de projetos feministas, focando na importância da internet como espaço em disputa
- Mulheres e pessoas tranvestigêneres/cuir defensoras de direitos humanos promovendo campanhas de ação direta
- Ativistas de direitos sexuais
O ponto de convergência destes grupos é uma atuação feminista mais local e cara-a-cara, muitas vezes sem oportunidades para olhar a internet como espaço político através de uma perspectiva feminista
São grupos que irão se beneficiar deste módulo de facilitação através da compreensão da internet - como espaço e ferramenta que utilizam em suas atuações - a partir de uma perspectiva feminista, possibilitando tomadas de decisão sobre suas utilizações da internet com maior autonomia e conhecimento.
Objetivos
Participantes irão:
- Compreender como nos engajamos na internet pensando-a enquanto espaço político
- Compreender os motivos pelos quais imaginamos uma internet feminista
- Criar entendimentos sobre os princípios feministas da internet
- Sentir prazer em discutir e criar políticas feministas de tecnologia
- Experimentar com as PFIs e relacioná-las com as áreas e contextos de seus ativismos
Atividades de aprendizagem
As atividades de aprendizagem para este módulo estão divididas entre atividades introdutórias - exercícios que abrem as possibilidades de discussão sobre a internet como espaço político; e atividades de aprofundamento - que focam em aspectos específicos das PFIs.
Dependendo do tempo programado, a atividade pode ser uma combinação de uma parte introdutória e uma segunda parte de aprofundamento, para uma sessão mais abrangente dentro do tema.
Atividades introdutórias
- Ressignificando a Internet
- Imaginar uma internet feminista (3 opções)
- A corrida da internet
- Linha do tempo da internet
- Como funciona a internet?
Atividades de aprofundamento
Recursos | Links | Pra ler mais tarde
- Princípios feministas para a Internet (em português)
- https://feministinternet.org/
- Feminist Principles of the Internet (PDF file)
- FPIs and 5 layers of power presentation (PDF file)
- #MFI Africa: The e-zine! (2020)
- GenderIT edition "Making a feminist internet: Movement building in a digital age in Africa" (2020)
- GenderIT edition "Making a feminist internet: Building movements, remembering resistance, hacking security and care" (2017)
- GenderIT edition "Three key issues for a feminist internet: Access, agency and movements" (2016)
- Finding the feminist internet: students respond to the feminist principles of the internet (2020)
- Imagine a Feminist Internet (2019)
- Politics of a feminist internet in Zimbabwe: Resistance and Silence (2017)
- Zimbabwean Reflections on a Feminist Internet (2017)
- A painting of an African feminist internet (2017)
- The Do-It-Yourself Feminist Internet: Cyber feminist actions from Latin America (2016)
- Imagine a feminist internet: Participation and political movements (2015)
- Why do the Feminist Principles of the Internet matter? (2014)
- Imagining a digitally secure, feminist internet (2014)
- Why is the internet a feminist issue? (2012)
Ressignificando a internet [atividade introdutória]
Esta atividade é direcionada para encorajar participantes a pensar sobre os aspectos positivos da internet nas nossas vidas -- pessoalmente, profissionalmente, na articulação dos movimentos e na criação de redes. A atividade se torna mais proveitosa quando feita no início das oficinas e em momentos onde participantes revelam o desconforto e sentimento negativo com relação à internet.
As participantes se reúnem em pares ou trios e se apresentam dizendo o nome, organização, país e uma coisa que gostam sobre a internet - seja pessoal, relacionado ao ativismo ou no geral. Não vale resposta coletiva, tem que ser individual (ainda vale concordar e complementar). É interessante fazer a atividade em roda, para que se vejam e para encorajar interações rápidas. Para garantir que a atividade não vai se estender demais, uma possibilidade é que cada participante fale em "tempo de fósforo": cada uma (ou a facilitadora) acende um fósforo e termina antes de a chama apagar.
Recursos para esta atividade
- Fósforos
- Alguma coisa pra segurar os palitos (tempo de fósforo não é tempo de queimar a mão!)
Duração
10 a 15 minutos dependendo do número de participantes, aproximadamente 40 segundos cada
Imaginar uma internet feminista (3 opções) [atividade introdutória]
Opção 1
Participantes elaboram individualmente suas ideias sobre uma internet feminista, por 10 minutos. Pode ser escrita, desenho etc. A pessoa facilitadora também pode oferecer a ideia de completar frases como "Uma internet feminista é..." ou "Na minha internet feminista teria...". É um momento para experimentar e sonhar. Pode ser interessante dar uma "agitada" no grupo pedindo para algumas pessoas darem ideias básicas do que seria a internet feminista. Cada participante pode ler ou explicar as suas definições para o grupo. A facilitadora pode tomar nota das palavras-chave das definições de cada participante em um flip chart ou quadro. As definições, caso anotadas em uma folha de flip chart, poderão ser colocadas numa parede, para visualizar e reforçar estas ideias, sem a necessidade inicial de discutir cada uma das definições.
Uma noção de facilitação visual é sumarizar as palavras que surgem e as que são constantes, conectando de forma simplificada como elas se conectam às demais e aos princípios feministas da internet. A discussão pode ser aprofundada com participantes definindo quais acham ser as palavras mais importantes ou apenas costurando estas definições com uma apresentação ou um exercício mais aprimorado sobre as PFI.
Recursos necessários
Canetas marcadoras, sulfite, papel kraft, post-it colorido ou sulfite colorido dividido ao meio, fitas adesivas.
Duração
30-40 minutos total: 10 minutos para apresentar e conduzir o trabalho individual. 20-30 minutos para ler e analisar as definições das participantes, dependendo do tamanho do grupo.
Opção 2
Imaginar uma internet feminista em grupos
A ideia é a mesma do exercício anterior mas com grupos de 4 pessoas. Neste caso, deve-se dedicar mais tempo para o debate dentro dos grupos do que para a devolutiva.
Duração
35 minutos total - 20 minutos de trabalho em grupo, 15 minutos de devolutiva.
Opção 3
Criando o ambiente online dos seus sonhos
(adaptado de Criando o ambiente online dos seus sonhos)
Iniciar com o questionamento: por que estamos online? Quais as razões e a importância disto para nós? Peça às pessoas participantes exemplos de coisas que fazem online que são significativas para elas, em diferentes aspectos das suas vidas.
Depois, peça a elas que imaginem-se construindo o ambiente online ideal, baseadas nas respostas para ambas as questões. Convide-as a participar em grupos de 3 a 5 pessoas para que imaginem juntas estes espaços.
- Como se chamaria?
- Por que é um ambiente significativo?
- Para quem e para o que ele é proposto?
- O que poderia ser feito neste ambiente?
- Se houver, quais são as regras?
- Como ele se parece?
- De quem é a responsabilidade de mantê-lo?
Incentive os grupos a projetar este espaço da forma mais criativa possível, diga para que preparem uma apresentação da ideia para o restante do grupo. É possível encorajar os grupos a agregar elementos lúdicos para a apresentação, como batalha de rap/repente sobre o quanto aquele ambiente é incrível, uma apresentação teatral, um cordel etc.
Novamente reunidas em um único grupo, a facilitadora deve escrever os elementos-chave de todos os ambientes, conectando com os princípios feministas da internet.
Estes elementos servirão pra destacar e exemplificar os princípios quando forem apresentados no próximo exercício, e catalizar sentimentos e ideias comuns que partam dos grupos.
Recursos necessários
Papel kraft, canetinhas coloridas para cada grupo, fitas adesivas
Duração
1 hora: 5 minutos para a introdução, 25 minutos para o trabalho em grupo, 30 minutos para a apresentação e o fechamento da atividade.
A corrida da internet [atividade introdutória]
Esta atividade é uma adaptação da "corrida dos privilégios" voltada para a internet, a fim de ilustrar as realidades de acesso à internet e as tecnologias computacionais. Ela pode ser usada para iniciar a discussão sobre a desigualdade no acesso fazendo intersecções de classe, raça, idade, identidade de gênero e território.
Dinâmicas
Convidar as pessoas participantes a ficarem lado a lado, formando uma linha. Esta linha será o ponto de partida que servirá de referência a quem facilitar. Escolha um lugar para ficar que será definido como o ponto de chegada, e informe a quem irá participar.
O objetivo aqui será mostrar, através das distâncias, as disparidades de acesso entre diferentes grupos identitários quando o assunto é a internet, tendo as pessoas participantes como ponto de exemplo. É importante ressaltar que a atividade não é base de comparação entre as pessoas, e sim para as suas realidades culturais, territorias e étnicas, e criar rupturas com a ideia de que utilizamos uma internet neutra.
Sugestões para as instruções:
Nota: Estas sugestões são apenas para orientar a condução da atividade. Cada contexto terá diferentes noções sobre o que é privilégio no acesso à internet. Se alguma destas sugestões não se aplica ao seu contexto, é altamente encorajado alterar para uma instrução que faça sentido com o grupo. Reflita também quais são as suas próprias noções de privilégio enquanto facilitadora, para pensar nas instruções de forma sensível às participantes.)
Privilégios técnicos
- Se você sabe o que é HTTP e HTTPS, pode dar dois passos à frente
- Se você sabe como funciona VPN, dois passos à frente
- Se você usa VPN, mais três passos à frente
- Se você conhece Software Livre dê dois passos à frente, se já utiliza no dia a dia, três passos
- Se o seu celular tem menos de dois anos, três passos à frente
- Se for um iPhone novo dê quatro passos à frente
- Se você tem laptop, tablet e celular tudo junto, dois passos à frente
Privilégios de linguagem e comunicação
- Se você fala um segundo idioma, dois passos à frente
- Se você usa esse segundo idioma no dia a dia com frequência e as pessoas te entendem bem, mais um passo à frente
- Se você só fala português mas tem facilidade de escrita, formal, acadêmica etc., um passo atrás
- Se você fala só o português do dia a dia, mas tem dificuldade de se comunicar por escrito, dois passos atrás
- Se a sua lingua nativa não é o português (é a lingua de seu país de origem, ou do seu território, ou linguagens não-verbais) dois passos atrás
- Se você consegue se comunicar usando a sua língua quando está usando o computador ou o celular, um passo à frente
Privilégios de raça e território
- Se você vive na região Sudeste, quatro passos à frente
- Se vive no Centro-Oeste e Sul do país, três passos à frente
- Se já tiver ido para fora da América Latina mais de uma vez, três passos à frente
Privilégios de gênero
- Se você for um homem cisgênero, três passos à frente
- Se você é uma mulher, dois passos atrás
- Se você for LGBTI+ ou de uma etnia não-branca identificável, dois passos atrás, se for ambos, três passos
- Se você for transvestigênere/cuir, ou pessoa negra, dois passos atrás, se for ambos, dê três passos
- Se for hétero, um passo à frente
Privilégio econômico
- Um passo à frente pra cada cartão com limite de mais de um salário mínimo que você tiver
- Se seu notebook ou celular tem menos de seis meses, quatro passos à frente
- Se o seu notebook tem mais de 3 anos de uso, dois passos atrás
- Se o seu celular tem mais de 3 anos de uso, um passo atrás
Privilégios etários
- Se você tem intimidade com a internet desde a adolescência, três passos à frente
- Se você já mantinha um blog ou página na internet antes do Facebook, dois passos para a frente (Nota: como bem notado originalmente, isso pode não ser sinônimo de privilégio! Estas questões podem ser modeladas de acordo com as diferenças geracionais do grupo, em intersecção com as diferenças econômicas. Nem todas as pessoas que tinham intimidade com a internet antes da era das grandes plataformas possuem a mesma intimidade nos dias de hoje. A diferença neste caso está mais relacionada com um privilégio sociocultural do que necessariamente com quem tem mais aptidão ou domínio sobre as linguagens da internet, e quem está tem mais facilidade de acompanhar as evoluções.)
Baseando-se no seu contexto, você pode criar novas instruções, ou adaptar de acordo com o tempo e o fluxo de cada grupo.
Fechando a atividade
Depois de terminar a corrida (seja por alguém ter cruzado a linha de chegada ou por terminar as instruções), peça a quem está participando para observarem um tempo umas às outras para refletirem em conjunto este resultado.
- Pergunte às pessoas que ficaram à frente como se sentem vencendo este tipo de corrida
- Pergunte também às pessoas que ficaram atrás como se sentem
- Faça isso também com as demais pessoas.
Uma vez que as devolutivas tenham sido processadas, traga as seguintes questões para aprofundar o tema?
- Sobre o que se trata esta corrida?
- Qual a reflexão que pode ser feita sobre os privilégios na internet e nas tecnologias digitais? Quais são eles?
- Por quem, e pra quem, a internet é feita?
Anote os termos-chave mais relevantes no quadro ou flip chart.
Linha do tempo da internet [atividade introdutória]
Nesta atividade o objetivo é trabalhar o reconhecimento da experiência adquirida com a internet pelas participantes.
Recursos para esta atividade
Uma parede grande pra pendurar post-its, ou uma folha larga de papel kraft. Você também pode preparar uma linha de tempo com divisões por anos (ou décadas) onde as pessoas colocam os post-its relacionados com estes períodos de tempo.
Duração
Dependendo do número de participantes e da quantidade de perguntas, até uma hora.
Dinâmicas
Nesta sessão interativa, participantes debaterão e compartilharão suas experiências no uso das tecnologias digitais, por exemplo:
- Primeira vez que usou um computador
- Primeira vez que abriu um site
- Quando foi a primeira vez que você entendeu o que um dispositivo eletrônico fazia e qual era ele
- Primeira vez que alguém te falou sobre alguma tecnologia que você se interessou de verdade
- Primeira vez que você ensinou outra pessoa a mexer com alguma tecnologia
- Primeira vez que você mostrou para alguém um site, você lembra qual era?
- Primeira vez que você fez algum curso ou oficina de tecnologia
- Primeira vez que você flertou com alguém na internet
- Primeira vez que você tentou procurar sobre alguma informação na internet e não encontrou nada
- Primeira vez que você foi assediada online
- Primeira vez em que você participou de um grupo na internet, você lembra qual?
- Primeira vez que se sentiu insegura
- Primeira vez que percebeu o poder que a internet exerce, como foi?
Cada pessoa irá escrever em post-its respostas curtas pra essas perguntas (como a data e o resumo do assunto) e então colocar na parede ou papel com a linha do tempo. No fim da atividade, o resultado será um mural com diversas primeiras experiências de internet das pessoas que participaram. Facilitadoras podem ajudar a organizar a linha do tempo e questionar brevemente sobre o que mudou desde então para como temos usado a internet no momento.
Como funciona a internet? [atividade introdutória]
Esta atividade introduz conceitos e recursos básicos da internet, para que cada participante entenda melhor seu funcionamento.
Recursos para esta atividade
Folhas de papel que representem os recursos da internet, escritos ou desenhados. Um exemplo de card se encontra em [link para cards?]
Duração
Uma hora e meia seria ideal.
Dinâmicas
Dando corpo à internet
A facilitadora poderá filtrar quais recursos básicos utilizar dependendo do cenário apresentado e da familiaridade de quem for participar. Esses recursos podem ser representados com cards, com os nomes escritos em folhas de papel, ou com participantes representando cada um deles.
No cenário "Como eu me conecto com...?" - usando um site popular como exemplo, os recursos seriam estes:
- Um dispositivo que conecta na internet: computador ou celular ou notebook
- Um roteador (também pode ser uma conexão WIFI ou 3/4G)
- A empresa provedora de internet ou telecomunicação (através do modem ou da antena do 3G/4G)
- Servidores que ligam as operadoras com a internet (infraestrutura)
- Servidores do site (por exemplo, do Google ou do Facebook ou Instagram)
No cenário "Qual caminho um e-mail faz pra chegar da pessoa A até a pessoa B?", seriam estes recursos:
- O dispositivo da pessoa A (computador, celular)
- Roteador da pessoa A
- O modem ou a antena de 3G/4G da pessoa A
- Servidores da operadora da pessoa A
- Servidor de e-mail da pessoa A
- Dispositivo da pessoa B
- Roteador da pessoa B
- Modem ou antena de telefonia da pessoa B
- Servidores da operadora da pessoa B
- Servidor de e-mail da pessoa B
No cenário "Como uma mensagem de chat chega de um celular para outro?", os recursos seriam estes:
- Celular da pessoa A
- Celular da pessoa B
- O modem ou a antena de 3G/4G da pessoa A
- Modem ou antena de telefonia da pessoa B
- Servidores da operadora da pessoa A
- Servidores da operadora da pessoa B
- Servidores do serviço de chat (Signal, Telegram, WhatsApp etc.)
Você pode propor que diferentes pessoas representem esses recursos segurando os nomes ou desenhos que simbolizem cada um no centro da sala. As outras pessoas irão sugerir e tentar montar o cenário, indicando em que ordem cada ação acontece.
Como alternativa, quem estiver representando pode montar uma atuação de como cada recurso interage, ou também você pode espalhar os papéis com nomes e desenhos de recursos no chão e pedir para o grupo tentar montar o cenário colaborativamente. Nestas opções, é necessário que já tenham sido discutidos alguns conceitos básicos de como se conectar à internet, ou que a pessoa que estiver facilitando oriente as participantes conforme a atividade se desenrola.
É possível estender o exercício para introduzir conceitos de criptografias de sessão (HTTPS) ou de ponta-a-ponta (PGP)
Para fazer o HTTPS, você pode usar um envelope para representar o certificado seguro, este envelope é mandado vazio para você pelo site, e você coloca a mensagem dentro dele e envia de volta pro site. Isso representa a criptografia de sessão (ou trânsito). Pode ser usado tanto no cenário do site quanto no do e-mail, pois funciona da mesma maneira.
Na criptografia de ponta-a-ponta (Signal, Protonmail, PGP etc), você vai precisar de dois envelopes, um para a pessoa A e outro para a pessoa B. A mensagem da pessoa A vai dentro do envelope da pessoa B, e vice-versa. Representa a troca de chaves que só as duas pessoas podem trocar entre si.
Interações sobre o tema
A facilitadora poderá criar interações acerca da temática, que podem se dar como uma conversa, podem incluir a história da internet, colocações sobre a composição política da internet ou a histórias dos movimentos de mulheres/pessoas negras/LGBTI+/indígenas atuando na internet.
Pode ser um bom exercício e debate sobre as disputas de poder e da propriedade dos dados e dos ambientes na internet, vigilância, riscos e vulnerabilidades das redes.
O que significa uma ferramenta? O que significa um espaço? [atividade de aprofundamento]
Nota: Baseado no módulo "Movement Building" criado pelo programa de direito das mulheres da APC, que não está incluso neste material. Algumas adaptações foram feitas com base nas experiências locais da equipe de tradução.
Atividade 1: O que significa uma ferramenta? - 15 minutes
Uma pequena introdução pode ser feita pela facilitadora, convidando as pessoas a pensarem o que é uma tecnologia. Após um breve debate, é importante explicar que uma tecnologia é uma ferramenta feita para facilitar ou tornar prática a feitura de algo. Que toda ferramenta, mesmo que não seja digital, é uma tecnologia, porque tem como objetivo facilitar o fazer das coisas. A partir disso, pergunte às pessoas participantes qual é a sua ferramenta favorita. Pode ser qualquer coisa, uma caneta, uma faca, um tear, agulhas de crochê, liquidificador etc. Peça que tomem nota e, a partir disso, respondam duas perguntas:
- Por quem você acha que essa ferramenta foi feita? Quem criou? Quem fabricou?
- Para qual finalidade vocês imaginam que esta ferramenta foi criada?
Notas de facilitação
Reforce a ideia de que as ferramentas são criadas com objetivos, mas também com intenções e valores atrelados a elas. Elas não são inteiramente neutras, e geralmente a maneira com que são projetadas pode afetar ou orientar a maneira como são usadas. Por exemplo, as diferenças entre os cabos de uma peixeira, uma faca de cozinha e uma faca militar, ou entre um copo e uma taça.
Da mesma maneira, as ferramentas que usamos online também são projetadas com um olhar para suas utilizações das pessoas que as consomem. Podem ser direcionadas com diferenciações de gênero, serem heteronormativas, cisnormativas, racializadas etc. Traga alguns exemplos para ilustrar isto. Sites de relacionamento geralmente são projetados usando casais heterosexuais como norma (assim como sites de pornografia orientam-se para o prazer cismasculino), sites como o Facebook e o Google levaram anos para incluir outros gêneros além de homem e mulher, além de considerarem documentos civis para considerarem uma identidade como "real".
Abra as discussões pedindo exemplos de como participantes percebem valores, presunções e preconceitos embutidos nas tecnologias digitais que utilizam, e como eles podem afetar como as pessoas utilizam cada uma delas.
Atividade 2: O que significa um espaço?
Recursos necessários
Um lugar aberto ou pelo menos amplo, sulfite colorida cortada em quatro, canetas marcadoras.
Duração
45 minutos
Dinâmicas
Peça às participantes para que lembrem as ferramentas que escolheram na atividade anterior. A partir disso, dê-lhes um desafio:
- Considerem que no lugar onde vocês estão só pode ficar quem tiver mais de 1.90m de altura.
- Só pode falar nesta sala quem tiver uma cadeira, mas só pode sentar na cadeira se tiver um cachorro.
- Se quiserem sair da sala, se sentirem desconfortáveis, tudo bem. Mas a porta tem 1.30m de altura e vocês precisam passar fazendo a dança da cordinha para sair.
Sabendo tudo isso, todo mundo se reúne em grupos. Participantes deverão pensar coletivamente sobre como podem usar as ferramentas que possuem de uma forma criativa para resolver este desafio e permitir que as pessoas se movimentem livremente por este espaço. Podem usar a ferramenta escolhida como acharem melhor, não precisa ser de uma forma restrita à utilidade original dela. O absurdo está liberado. Voltando para a roda, os grupos compartilham suas soluções.
A partir daí, traga à reflexão os desafios e os resultados deste exercício:
- Como foi para vocês mudarem a função das ferramentas que escolheram? Fazer isso mudou os valores e as ideias associadas a elas?
- Como foi a experiência de trabalhar para mudar as regras da sala?
- Vocês se sentem fazendo a mesma coisa na internet também? Vocês acham que é possível transformar a internet, as nossas comunicações, os nossos espaços, as estruturas de poder, usando este pensamento coletivo e essa habilidade da gambiarra?
Após toda a discussão, faça um fechamento breve, conectando com essa experiência, com a cultura da gambiarra, e o que significa ser agente de mudança dentro dos muitos significados que isso possa ter. Podem ser usados vários exemplos desse tipo de ação nas redes. No link em inglês, o exemplo da campanha #fbrape. Aqui no Brasil, podemos citar na mesma proporção a #meuamigosecreto.
The Day the Everyday Sexism Project Won and Facebook Changed
Notas de facilitação
Durante a discussão, costure as relações entre as ferramentas, os espaços e as ações tomadas neste espaço usando estas ferramentas, como cada uma afeta a outra.
Relembre o quanto a estrutura da sala afeta as nossas interações. Quando as cadeiras estão diretamente colocadas junto à mesa, isso afeta a nossa interpretação sobre como usar as cadeiras, como se fossem duas coisas a serem usadas juntas. Quantas vezes estamos em um espaço e realmente nos sentimos livres para movimentar as cadeiras e mesas da forma que nos faz confortáveis? Tente conectar estas analogias com a ideia da internet como ferramenta para um espaço que regula nossas formas de interagirmos entre nós. Que a construção destes espaços também é feita com um nível de tendenciosidade de quem os planeja. Por exemplo, a diferença entre espaços de construção de conhecimento com uma construção professoral ou uma construção mais aberta como a de uma oficina.
Em outras palavras, as ferramentas na internet não são inertes, mesmo que sejam projetadas e reguladas para serem enxergadas desta maneira. São espaços que afetam e estruturam as nossas interações em menor ou maior proporção.
São diversos espaços, apesar de ser a mesma internet. Da mesma forma que um terreno pode ser ocupado e transformado de diversas maneiras, cada espaço na internet, representado por sites e plataformas, também estará sofrendo transformações de acordo com quem ocupa e regula, direta ou indiretamente, aquele espaço.
Ainda assim, são diferentes acessos, e diferentes direitos a estes terrenos. Algumas pessoas têm permissão a um espaço muito pequeno, que restringe a sua liberdade de construir ou trabalhar a terra, outras não conseguem uma escritura, outras possuem quantidades enormes de terra que continuam crescendo e se apropriando de outras menores.
Na internet, também é mais difícil romper com essas estruturas dos grandes que possuem mais recursos. Porém isto não nos retira o poder de negociação e cobrança do direito a essas terras. Por exemplo, é difícil negociar os valores do Facebook e das suas plataformas, de como são construídas e reguladas, mas ainda é possível trazer a discussão deste direito para dentro dos seus mecanismos. Os casos das hashtags acima descrevem bem as possibilidades de abertura criadas pela ação coletiva. Ainda que sigam mudando as regras, estas possibilidades nos lembram que podemos mudar a forma de usar as ferramentas como resposta a isso.
Detalhes da campanha #Fbrape que permitiu alterar as políticas do FB para denúncias de páginas com apologia e disseminação de estupro. Estas respostas também geram reação nas outras redes (no caso acima, nas políticas do Twitter), e como os construtores destes espaços e "donos da terra" percebem as mudanças de lógicas e valores que afetam as interações e seus interesses enquanto espaços em disputa.
É preciso enxergar como direito
Nossa capacidade, como usuáries, de transformar estes espaços online e seus valores de forma igualitária e livre. Uma vez que tais valores e as regras que os condensam afetam e regulam nossas interações, que não são apenas digitais, mas representações de nossas corporeidades na rede.
Atividade 3: Movimentos sociais e a internet
Este exercício pode ser útil para criar uma percepção positiva da internet enquanto espaço de ação efetiva, e não apenas um espaço de agressão e resposta reativa.
Recursos necessários
Flipchart, Canetas marcadoras e fita adesiva
Duração
60 minutos: 15 para a primeira atividade, 20 para o trabalho em grupos, 10 minutos para observar o trabalho dos demais grupos, e mais 15 para uma rodada de discussão e fechamentos.
Dinâmicas
Peça às participantes para refletirem sobre uma das ferramentas que utilizam em seus ativismos, e trabalhem estas questões:
- Para que serve esta ferramenta e por que você acredita que ela é apropriada para o seu ativismo?
- Por que esta ferramenta específica, e não uma similar? Como ela te faz sentir apropriada?
Divida todas as pessoas em pares ou grupos com 4, dependendo do tamanho da oficina. Peça para que pensem em um desafio recente nas suas atuações políticas, ou que identifiquem uma situação que foi significativa em seus contextos.
A partir daí, poderão responder algumas questões relacionadas a diversos elementos humanos destas situações. Descrevam como vocês acham que a internet transformou as seguintes relações:
- Relações de poder individual, pensando mais em como elas foram fortalecidas neste processo, não nas disputas
- Reconhecimento das subjetividades, das diferenças e potências individuais. Por exemplo: se foi uma ação voltada para uma população tradicional, como a internet permitiu a aproximação e reconhecimento dessas pessoas, ou se foi voltada para pessoas trans, travestis e não-bináries, como foi o processo de incluí-las e pertencê-las em espaços tão binários?
- Potências da coletividade; como ela permitiu que essas pessoas se encontrassem neste espaço e elaborassem ações juntas
- Diversidade das ações e dos resultados delas para o ativismo de vocês
- Como as formas de atuação online e offline se complementaram e fortaleceram uma à outra
- Como ajudaram a comunicar os objetivos políticos em comum
- Quais foram as compensações emocionais obtidas na coletividade
- Quais espaços foram ocupados, reapropriados, ressignificados
- Como vocês sentiram que foi o tempo da ação, da resposta, dos resultados
- Quanto tempo durou essa ação
Uma vez que essas questões forem mapeadas por cada grupo, estes grupos penduram suas folhas de flipchart em uma parede ou podem agrupá-las no centro da sala, e conforme cada grupo vá terminando, podem circular pela sala e contemplar os mapas dos outros grupos.
Após todos os grupos terminarem e circularem, traga todas as pessoas para uma roda para conversar um pouco sobre o que viram, o que fizeram, como se sentiram. Sinta-se disposta a trazer algumas perguntas orientadoras:
- Como a internet ajudou a transformar as relações de poder nos movimentos? Sinta-se à vontade para retomar as perguntas apresentadas para os grupos como uma forma de puxar as respostas.
- Qual foi a diferença mais notável em se organizar desta forma para quando não utilizavam a internet como ferramenta de atuação?
- Como nós enquanto pessoas defensoras de direitos humanos, das mulheres e pessoas tranvestigêneres/cuir, feministas, podemos nos envolver melhor com a internet como um espaço político?